sábado, 21 de outubro de 2017

Robôs não roubarão os empregos do futuro

As decisões de substituição de humanos por máquinas não será das tecnologias


Carlos Teixeira Jornalista

Robôs não roubarão empregos dos trabalhadores. Nem a automação, menos ainda a inteligência artificial ou os drones. Todos os dias, jornais, revistas, televisões, portais e sites de notícias veiculam informações sobre o poder das tecnologias no processo de eliminação de empregos. Mas são outros os verdadeiros responsáveis pela eliminação de empregos.


Pessoas, de carne e osso, seres humanos, são os verdadeiros atores do processo de substituição de mão de obra nos próximos anos. Ao contrário do que dizem as manchetes, as tecnologias não roubam vagas, nem eliminam empregos. É a decisão empresarial ou, mesmo, governamental, de utilizar determinada inovação que tem o poder de alterar a situação do mercado de trabalho.


Pelo menos por enquanto, e para a sorte da humanidade, tecnologias não tomam decisões. A distinção é necessária. Primeiro de tudo, porque a decisão de mudar as relações de trabalho depende de uma redefinição de prioridades. A sociedade se coloca entre a necessidade de preservar oportunidades de geração de renda para a sobrevivência de pessoas ou de acelerar o processo de acumulação, sob o manto da competitividade.

"A tecnologia não é o destino. Nós moldamos nosso destino", refletem os pesquisadores Erik Brynjolfsson e Adrew McAfee, na última linha do livro "A Segunda Era das Máquinas". Na publicação, os autores fazem um levantamento geral dos impactos das transformações possibilitadas pelas inovações. E revelam a preocupação em sugerir ações para que a transição reduza a possibilidade de impactos negativos para a sociedade.

"Na segunda era das máquinas, precisamos pensar muito mais profundamente sobre o que realmente queremos e valorizamos, tanto como indivíduos quanto como sociedade. Nossa geração herdou mais oportunidades de transformar o mundo do que qualquer outra. Isso é motivo para otimismo, mas apenas se estivermos conscientes de nossas escolhas", atestam.


De fato, entender quem vai tomar as decisões de adoção de tecnologias e quais os critérios é essencial. A decisão de eliminar o trabalho de ascensoristas, de trocadores do transporte coletivo e de caixas em supermercados passa, necessariamente, por definições de prioridades. Na lógica predominante da busca pela produtividade, as demissões futuras estão condicionadas exclusivamente pela relação entre custo e benefício.


Erik Brynjolfsson e Adrew McAfee apresentam, no livro, ideias originadas em discussões sobre o futuro. Foi o resultado de um grande branstorming com tecnólogos, lideranças de trabalhadores, economistas, sociólogos e autores de ficção científica. Entre as sugestões, uma defende o começo de "um movimento ´feito por humanos`, parecido com aqueles em prática hoje para alimentos orgânicos".


Também há uma proposta para a concessão de créditos a companhias que empreguem humanos, nos moldes com o que se faz nas compensações de carbono. "Se alguns consumidores quiserem aumentar a demanda de trabalhadores humanos, tais rótulos ou créditos devem lhes permitir fazer isso", afirmam os autores do livro.


No Brasil, a lentidão do uso de robôs e da implantação de sistemas automatizados será favorecida pelo baixo poder dos salários e pelo aumento da informalidade do mercado nos próximos anos. Mesmo com a queda vertiginosa dos custos da aquisição de equipamentos informatizados, os empresários retardarão parte dos investimentos em inovação. Na China, bastou um aumento dos salários dos trabalhadores para que os empresários investissem em programas de ampla robotização de fábricas.


O que está em jogo é uma balança que coloca em oposição duas visões determinantes para os rumos do futuro da sociedade. Estamos na encruzilhada entre prioridades focadas em alguma forma de humanismo ou na continuidade da visão economicista, predominante hoje, sintetizada pelas políticas de austeridade praticadas na maioria das economias dos países ocidentais.


Robôs não tomam decisões significa, então, que a sociedade precisa tomar as rédeas das discussões com urgência. Não com uma postura ludita, de quem rejeita e quer quebrar as tecnologias. Ou de quem vai crucificar empresários em praça pública.









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